Acordamos cedo, ou mal acordamos.
Para comer correndo a comida saudável que não tem gosto.
Para sair de casa na hora que não queremos.
Para pegar o trem que não chega.
Para entrar no trem onde não se respira.
Para trocar de trem no corredor onde ninguém anda.
Para caminhar um trecho debaixo da chuva que não perdoa.
Para chegar no trabalho que já não gostamos.
Para fazermos tarefas que não são produtivas.
Para defendermos causas que não acreditamos.
Para ganhar o dinheiro que não precisaríamos.
Se não quiséssemos comprar produtos que não usamos.
Se não tomássemos remédios que não funcionam.
Se não pagássemos o salário de políticos que não nos representam.
Se não gastássemos tempo e dinheiro com falsos amigos que não acrescentam.
Se não bebêssemos para esquecer os problemas que não causamos.
Se não tivéssemos saído de casa pra ter a carreira que não sonhamos.
Tudo isso pra, no fim do dia, chegar na casa onde mal paramos.
Onde se empoeiram os livros que não lemos.
Onde se acumulam a louça que não lavamos.
E deitamos na cama, onde não dormimos.
Pra acordar cedo, de novo, ou mal acordarmos.
